ROMANCE

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CAPÍTULO 11

UMA CONVERSA MUITO DIFÍCIL
Adriana foi correndo ao tio e lhe falou conforme sua tia havia ordenado. Voltaram juntos e no caminho ela lhe falou do que se tratava a urgência. Dayelle estava em casa e que viera com um casal que pareciam ser muito rico. Chegaram num carro muito chique.
Assim que Jerônimo soube do que se tratava, sentiu alívio em seu coração. Apesar de não demonstrar e até fazer de conta que não estava se incomodando com o desaparecimento da filha, ficou mais tranquilo em saber que ela estava bem. Tratou de acelerar os passos para chegar mais rápido, deixando Adriana para trás que tentava acompanhar seus passos inutilmente. Usava uma roupa bastante surrada e maltrapilha. Estava todo suado quando entrou em casa devido ao trabalho fatigante e a rápida caminhada que acabara de fazer. Retirou da cabeça o boné desbotado pelo sol e pelo constante uso e cumprimentou os doutores. Apenas olhou para Dayelle.

Dayelle toda acanhada não sabia se devia tomar-lhe a bênção. Por fim decidiu que era o certo a fazer. Se ele a abençoasse bem; se não, tinha cumprido sua parte.
- A benção, pai.
Jerônimo puxou uma cadeira e sentou-se também. Estava muito magoado com a filha e pensou em não responder. Mas que espécie de pai era ele em recusar abençoar a própria filha? E na presença de estranhos? Guardou a punição para mais tarde e respondeu:
- Deus te dê a bênção! – olhou para a mulher que estava apreensiva e ao mesmo tempo preocupada – A caminhada me deu sede, Judite. Me dá um copo d’água.
Judite se apressou em servir o marido, enchendo uma caneca grande com água bem fresquinha e estendeu para Jerônimo.
- Os doutores são servidos?
- Não! Obrigado!- responderam ambos

Com a sede saciada, Jerônimo introduziu o assunto.

- Então Dayelle, - falou à filha – Não se conteve em nos trazer problemas? Resolveu envolver os doutores também nas suas loucuras?
- Jerônimo, - interrompeu Rafael – se me permite, antes que Dayelle te responda eu gostaria de lhe falar.

Dayelle deu graças a Deus. E Rafael continuou.

- Você tem toda razão em está bravo com sua filha. Eu também sou pai e com certeza minha atitude não seria diferente da sua.
- Vê se tem cabimento, doutor, esta menina fugir de casa e deixar todo mundo preocupado?
- Tem toda razão, Jerônimo, e é por isso que eu a trouxe de volta. Não tinha chance nenhuma de ficar com ela em minha casa sabendo que ela havia fugido.
- Ela saiu daqui falando que ia trabalhar na Vila, doutor. Saiu daqui na terça feira para voltar na quarta. Como ela não voltou, na quinta, pela manhã, o irmão foi procurar por ela onde ela disse que estaria trabalhando e a pobre da mulher tomou até um susto, pois não havia chamado ela para fazer nenhum serviço.
- É Dayelle, você não agiu corretamente. – falou Rafael

- Qual é a desse cara? Dayelle se perguntava. Ao invés de me ajudar, ele está complicando mais a minha situação?

Jerônimo continuou.
- O irmão passou o dia procurando por ela. Perdeu o dia de serviço por causa dessa desmiolada.

A coisa estava se complicando para a menina. Jerônimo estava ficando cada vez mais alterado e Dayelle sabia que isso não era um bom sinal.
- Minha vontade doutor é de pegar esta menina e dar uma boa surra nela de fazer ela se banhar na água de sal.
Késsia nem Judite falavam uma só palavra. Nem mesmo Dayelle ousava falar alguma coisa. Deixou o assunto com os homens e se tornaram meras expectadoras. E torciam para que tudo terminasse bem. Principalmente Dayelle.
Rafael sentiu que deveria amenizar a conversa, pois percebeu com que raiva Jerônimo proferia cada palavra.
- Sabe Jerônimo, ainda bem que ela bateu em minha porta. Os empregados a receberam. Ela ajudou no serviço da casa e eu não a trouxe há mais tempo porque só fiquei sabendo ontem. Tive uma conversa séria com ela e ela entendeu que este não era o caminho certo.
- Doutor, eu não o conheço. Mas sei que é um homem correto. Outro não ia dar a mínima. E talvez até se aproveitasse da ingenuidade dela.
- Obrigado!
- O senhor agiu como amigo. Colocou ela no carro trouxe de volta pra casa. Eu sei que o senhor não tinha essa obrigação.

Rafael sentiu que estava dominando a situação e arrematou.

- Era minha obrigação sim, Jerônimo. Sou um servo do Senhor e isto me torna servo de meu semelhante. E você é meu semelhante. Como eu podia deixar a filha do meu semelhante nas ruas tão perigosas como são as de Tupamirim? Não viveria em paz com a minha consciência e com o meu Deus se alguma coisa ruim acontecesse com ela, uma vez que procurou ajuda em minha casa.
- É um homem de caráter, doutor Rafael. E digo isso não porque o senhor é crente; porque eu sei que tem muito crente safado.
- Mais uma vez eu agradeço, mas agora vamos falar de Dayelle. Eu pude perceber que o senhor a educou muito bem. É educada, caprichosa e muito trabalhadeira.
- É! Ela trabalha desde pequena. Até pegar café na roça comigo ela já pegou. Vive fazendo faxina lá na Vila. Todos por aqui gostam muito dela. Só que de uns tempo pra cá ela virou a cabeça de um jeito... Se envolveu com o primo, engravidou... Colocou a mãe dela e eu numa situação muito difícil. O pai do meu sobrinho mal fala comigo e é muito difícil, porque é meu patrão e estas terras é dele.
- Dayelle cometeu um erro, mas vamos levar em consideração que ela sempre foi uma boa filha, não é Jerônimo?
- Essa menina é a que menos me deu trabalho; em casa, na escola. Ela gosta muito de ler. Se não tá trabalhando, tá lendo.

Dayelle ficou mais animada com o rumo da conversa. Késsia sentiu que estava na hora de participar também.

- Ela tem muita vontade de continuar os estudos. O que você acha disso, Jerônimo?
- Eu penso que ela tá certa, mas aqui na vila não dá muito recurso pra isso não, doutora.
- E se ela tiver oportunidade? – Quis saber Késsia.
- Olha, doutora, eu mal sei assinar meu nome. Sou ignorante de pai e mãe, mas se meus filhos puder crescer na vida não sou eu que vou impedir.
- É pra isto que estamos aqui. – continuou Rafael – Queremos dar esta oportunidade a sua filha.
- Mas como?
- Viemos pedir a permissão de vocês para que Dayelle volte conosco para Tupamirim, onde ela ficará trabalhando em nossa casa lhe pagaremos um salário e ela terá a chance de realizar seu sonho: de continuar seus estudos.

Todos ouviam boquiabertos. E Dayelle não se cabia de felicidade e ansiedade em saber a resposta do pai.

Neste momento chega Wagner da vila. Damaris percebeu que estava chegando, correu para lhe contar a novidade. De longe Wagner viu o carro e ficou tudo esclarecido quando Damaris foi ao seu encontro. Entrou em casa cumprimentando-os sem interrompê-los.
- Não sei, doutor! – Respondeu Jerônimo inseguro.
- Sempre que ela quiser poderá visitá-los – Afirmou Rafael.
- O que acha, Judite? – perguntou Jerônimo para a mulher.

Jerônimo sempre tomava as principais decisões, mas aquele assunto requereria outra opinião. E Judite foi categórica e decidida. Mas que qualquer um ali, ela desejava compensar a filha por sua perda e respondeu.

- Os pais têm o dever de educar os filhos, cuidar deles, mas não tem o direito de impedir que batam asas e voem. Minha filha sempre estudou com dificuldade. Todos os irmãos só fizeram até a quarta série, porque tinham muita dificuldade. Não tinham roupa direito para irem à escola, caderno, livros... A Daye, com toda dificuldade, fez até a sétima e quer continuar. Se vocês querem dar a ela esta oportunidade, não sou eu que vou impedir.

Diante de tamanha veemência, Jerônimo não teve como discordar.
- Se for este o desejo dela, eu não vejo mal algum. Vocês já provaram que são gentes decentes.

Dayelle quase gritou de felicidade. Nem dava pra acreditar em seus ouvidos. Era bom demais. Neste momento todos falavam ao mesmo tempo. Encorajavam a Dayelle, como se ela precisasse de coragem. Outros davam conselho para que ela fosse obediente aos doutores. Dayelle abraçou com o irmãozinho Wender. Se tivesse intimidade, ela abraçaria seu pai. Até dona Almerata fez o comentário dela.

Dayelle estava se sentindo nas nuvens. Ia voltar. Ia trabalhar muito e juntar dinheiro para procurar seu filho e, de brinde, ia poder voltar aos estudos.

Em meio à alegria, todos foram servidos de mais café e Dayelle foi arrumar suas coisas para levar. Na fuga deixou todos os seus pertences para trás. O que não queria, deixou para seus irmãos. Para Damaris, ela deu sua boneca de cabelo. A irmã sempre pedia para brincar com ela. E para onde ia Dayelle não ia ter tempo de brincar de bonecas. Deu ao Wender várias revistas. Ele gostava de ver os desenhos. Principalmente os de carro. E ao Wagner resolveu recompensá-lo por todo trabalho que lhe deu e deixou com ele sua toca-discos que ganhara no bingo da igreja.

Os doutores receberam o convite para esperarem o almoço, mas eles explicaram que não podiam ficar, pois aguardavam os filhos que chegariam de viagem. Assim que Dayelle terminou de apanhar suas coisas começaram a se despedir. Dayelle estava tão feliz que resolveu quebrar o protocolo e abraçou e beijou a todos; inclusive seu pai que não deixou de fazer suas recomendações.
O último a ser abraçado foi o Wagner.
- Vê se volta de lá doutora, viu? – lhe falou Wagner.
- Com certeza. Você sabe que eu sempre aproveito as oportunidades.

Dayelle deixou com sua mãe os cinqüenta Cruzeiros que ganhara de Rafael. Não ia lhe fazer falta. Pra onde ela ia, se comia do bom e do melhor. Era mais necessário para sua mãe.
Após a despedida, entraram no carro e Rafael o colocou em movimento. Pelo vidro Dayelle via todos lhe acenando enquanto Damaris corria atrás do carro, seguida por Wender que não conseguia acompanhá-la. Correu até o carro se perder de vista e desaparecer além da curva.

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